23.01.18
Templos de saber, templos de conhecimento, mas não só, templos de prazer também.
Há lá coisa melhor que passear-se por uma boa livraria? Daquelas que até têm um cafezinho para os intervalos ou umas cadeirinhas para desfolhar os livros?
Digo-lhes que seria um abuso da minha parte dizer que não há outros prazeres tão prazenteiros, mas também lhes digo que é uma coisa inolvidável.
É das melhores coisinhas que se pode arranjar para passar umas boas horinhas sem dar pela sua passagem. E então pegar num livro, sentir-lhe o peso, saber que estão ali horas de escrita criativa, pensada, repensada e muitas vezes revisionada tantas vezes que acaba por ter, relativamente ao originalmente escrito, uma fluência completamente diferente.
Ah! Os livros, os livros.
Os livros que nos encantam, os livros que nos alegram, os livros que nos ensinam, os livros que nos deixam felizes e também os livros que nos emocionam, os livros que nos entristecem e até os livros que não têm qualquer interesse para nós.
Tenho para mim que é um dos melhores passeios, o que eu chamo passear pelos livros, andar entre eles, desejar possuí-los todos, ainda que seja impossível, mas o desejo existe.
Faço uma primeira abordagem pelas montras, entro e dirijo-me ao escaparate das novidades, desfolha aqui pego naquele, aprecio o autor, o próprio título e leio a contracapa, um pequeno resumo da estória e logo ali imagino o enredo. Passo-lhe as mãos pela capa, sinto as folhas, descubro o papel em que são impressos, fecho-os com toco o cuidado e afago-os antes de os arrumar no seu devido lugar.
Ah! Como eu gostava de ter estas imaginações, estas capacidades de escrever, estas tempestades de palavras a jorrar da caneta em catadupas, como eu gostava. Havia de escrever para todos e manter o preço do livro baixo, muito baixinho, para que cada um pudesse deliciar-se com o que escrevesse.
Sonhos. Isso era se eu soubesse ou tivesse esse dom da escrita que nos transporta a outros mundos, a galáxias distantes da que vivemos, que nos retira da normalidade da vida para uma outra, esta sim, vivida no êxtase da criação.
Mas não tenho nada disso. Não sou um escritor, sou um apreciador. Não pensem que é menor, não senhor, sem apreciadores que seria dos livros? A quem seriam vendidos? Quem os escrevia sabendo de antemão que não os liam? Nada disso pode acontecer porque eles são uma companhia imprescindível, é com eles que falamos quando nos sentimos sós, com eles trocamos ideias, neles encontramos amores, amigos e até inimigos.
Ah! Os livros, os livros.
Dois na mesinha de cabeceira, sempre prontos à leitura da noite, antes que o sono nos encaminhe para outros sonhos. Dois? É verdade, tenho este horrível feitio de ler dois ao mesmo tempo, ou quase, quando um me começa a aborrecer ou a mente me transporta para outro, vá de trocar de leitura e embalar de novo numa nova estória, de tal forma que chego a misturá-las.
Onde é que eu li isto? Foi neste ou naquele outro? Pois é, a dúvida instala-se e obriga-me a uma segunda e terceira leitura do mesmo livro, garanto-lhes que é bom. Nisto tudo tenho uma mágoa que ainda não resolvi. Tentei duas vezes ler James Joyce no seu famoso Ulisses e, das duas vezes desisti. Hei-de conseguir um dia chegar ao fim e quem sabe, relê-lo de novo.
O que eu leio! Quem me dera ler mais.
Na impossibilidade, porque a coisa está preta e não se pode gastar tanto dinheiro em livros, apesar de preferir livros a comida, o que é certo é que também tenho de comer, resta-me, então, ir passeando entre eles e de quando em vez comprar alguns, os eleitos do momento.