31.01.18
Ter dois relógios hoje em dia é uma coisa absolutamente normal, o consumo chama por nós e a publicidade encarrega-se de nos fazer gostar mais de um modelo ou de outro, de uma marca ou de outra, consumismo.
Apesar de também ter mais de um, acabo sempre por ter o gosto e o prazer virado para um ou dois que uso em diferentes circunstâncias.
Um mais para situações de alguma cerimónia, outro, mais para todos os dias, e nenhum deles é demasiado novo, mas são comprados ao meu gosto, para usar nestas diferentes situações.
Mas os dois relógios de que vos falo são diferentes, não têm nada a ver com estes, são relógios que me ligam ao passado, que me recordam pessoas, entes queridos que jamais esquecerei.
Um deles pertenceu ao meu avô, não é de ouro nem de prata, é o relógio do meu avô. Grande, pesado, de bolso um Sergine que neste momento tem mais de cem anos. Era o relógio do meu avô e apesar de há muitos anos não funcionar, resolvi tentar pô-lo a trabalhar entregando-o a um relojoeiro para lhe dar todo o tratamento que merece.
O outro, um Certina automático de 1938, era do meu pai e seguiu o mesmo caminho para restauro.
Ambos têm um valor relativo, têm um valor estimativo, um valor que vai muito além da capacidade económica de alguém os comprar, não estão à venda, e não estão porque não quero vender uma parte de mim.
Tiveram a sua época, nasceram numa altura em que as pessoas os compravam para toda a vida, não por motivos fúteis, como andar na moda.
Serviram para marcar a passagem das horas, a passagem do tempo.
Agora servem para marcar a saudade, aquela falta que sentimos dos que nos são queridos e partiram já, há muito.
Os relógios do meu avô e do meu pai.
Tenho por eles uma enorme ternura e guardo-os religiosamente, mesmo que nada valham, mesmo que não sejam de ouro, mas, são claramente relógios de uma grande e eterna saudade.