27.04.18
As andanças pela cidade levam-nos à descoberta de coisas que por tanto serem vistas nunca são apreciadas.
Um dia destes dei por mim num passeio pela cidade até a um determinado objectivo.
Meia hora de metro até à baixa, meia hora de encontros e desencontros em que, por não ter levado a companhia do costume, um livro, me vejo a imaginar e auscultar as pessoas que entram e saem da carruagem onde me encontro.
Gordos, magros e assim-assim. Alegres alguns, outros tristes e um matiz de linguajar inconstante que de tão diferente nos impede a percepção do que quer que seja.
Sinto-me num caldeirão de costumes e culturas inimagináveis alguns anos atrás. Árabes, Indianos, Paquistaneses, Africanos de várias origens, até Europeias, europeus do norte, do centro, do leste e até do oeste e Angolanos.
Inconfundíveis estes Angolanos, pela sua maneira de estar, pela linguagem que tem aquela acentuação especial que só ouvidos acostumados distinguem. Atrevo-me a imaginar que num futuro não muito distante esta maleabilidade e esta doçura adaptativa do português-angolano vai ser uma língua tão agradável e apetecível como o foi a descoberta da entoação da língua pelos brasileiros há uns anos.
Portugal está transformado no centro do mundo, no ponto de encontro de tudo o que são culturas das mais diversas.
Chegada ao destino. Baixa-chiado.
Ao sair da estação sou de imediato invadido pelo intenso brilho do sol, logo hoje que me esqueci dos óculos escuros, não faz mal, é só cerrar um pouco as pálpebras e a coisa vai.
O calorzinho que nos envolve é delicioso, tendo em vista que o passeio do cão na noite anterior foi bem frio, um dia extraordinário se nos lembrarmos que ainda há dois dias chovia a cântaros.
A pé até à CML onde estava a mostra de documentos da República, renovando energias com o banho de sol que nos acompanhava.
Gostei da mostra disponibilizada em termos documentais e fotográficos e apreciei algumas das razões par que a monarquia tenha sido ostracizada e derrubada por um golpe militar para que fosse aberto o espaço para a implementação da república.
Rezava assim o epitáfio da queda da monarquia:
“R.I.P. finou-se a monarquia
Viva a República
Agora esperamos pelos breves progressos da nova civilização
Viva a República
Lisboa, 12 de Outubro de 1910”
O que me espanta no meio de todas estas revoluções de que este país tem vindo a ser palco é que, seja qual for a época, seja qual for o regime, a desculpa foi sempre a mesma, a defesa intransigente do povo português.
Foi assim na implantação da República, foi assim no 25 de Abril de 1974.
O povo português, esse denominador comum, sempre esperou que a sua incondicional entrega a estas revoluções tivesse como resultado a sua melhoria de vida, maiores garantias de apoio social, melhores empregos, no fundo uma vida mais próxima ao que sempre foi a vida europeia, afinal era isso que movia as revoluções.
A prática, no entanto, é bem diferente. Então acabou-se com a monarquia, acabou-se com os grupos privilegiados em nome do sacrossanto povo e o que vemos hoje?
A criação de uma nova monarquia, agora pode dizer-se que esta é uma monarquia republicana pois basta olharmos à nossa volta para reparar que os políticos, na sua maioria, não são mais do que isso. Sempre os mesmos, legislando a seu favor em tudo o que são benesses, colando-se às cadeiras do poder e da assembleia com a agravante que em grande parte nunca trabalharam na vida para além do que fazem depois de eleitos.
São estes senhores, que dizem representar-nos, intocáveis, inimputáveis, inatingíveis e inamovíveis.
Reproduzem-se em quantidades insuportáveis para este país, para o erário público e para este povo que lhes paga tudo. Chegam mesmo a herdar as cadeiras dos papás, impressionante.
A nova monarquia.