11.06.18
Há relativamente poucos dias escrevi alguma coisa sobre a vergonha, a vergonha que senti por assistir a uma degradante situação de abandono daqueles que um dia, um longínquo dia, acreditaram que Portugal era a sua pátria.
Parece que me estava a antecipar a um programa a que assisti na RTP1 sobre uma operação que os portugueses organizaram na Guiné Conakri para resgate de prisioneiros, portugueses, que lá se encontravam, para além de outros objectivos estratégicos na altura.
A esta distância, não me interessa se a operação era boa ou má para Portugal e para a então guerra que se estendia a todas as ex-províncias ultramarinas.
Só me interessa o aspecto humano daquilo a que assisti.
Morreu muita gente, na quase totalidade elementos do contra da própria Guiné Conakri, a operação não se concluiu com a totalidade dos objectivos expressos à partida, mas redundou num profundo êxito porque foram resgatados todos os prisioneiros portugueses que lá se encontravam. Nem os americanos fizeram isto no Vietnam e eram muitos mais e mais bem armados.
O importante para mim foi ouvir aqueles homens, verdadeiros portugueses, ainda que de outras cores, a desfilarem o orgulho de serem comandos africanos do exército português e de terem conseguido resgatar todos os “nossos camaradas aprisionados”.
“Nossos camaradas aprisionados”, esta frase, dita com um brilhozinho nos olhos, diz tudo o que se possa dizer.
Por mim, posso adiantar que, ainda que o país não os acarinhe, eu também, e estou certo que muitos mais dirão a mesma coisa, estes homens são e serão sempre “nossos camaradas”, nossos companheiros de boas e más horas que, tristemente, têm sido abandonados pelos que agora clamam pelo valor da pátria.
Fiquei orgulhoso de os ter tido como camaradas.