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Caneta da Escrita

Temas diversos, Crónicas, Excerto dos meus Livros.

Temas diversos, Crónicas, Excerto dos meus Livros.


14.11.13

 

Ah, se eu fosse uma gaivota.

 

Se eu fosse uma gaivota, voava, voava muito, voava para além do horizonte na procura do que para lá existe, além do horizonte já se vê.

 

Se eu fosse uma gaivota, corria este rio de cima a baixo, da nascente à foz, e outra vez o sobrevoava da foz à nascente. Olhava, perscrutava, procurava e estou certo que encontrava quem tanto mal lhe faz, quem o enche de desperdícios, quem mata os peixinhos de que me alimentava, de quem afasta a vida que nele germina.

 

Se eu fosse uma gaivota, não permitiria que o símbolo de Lisboa tivesse corvos, havia de me rebelar, havia de lutar contra a sua colocação, ainda que fosse sozinho, ainda que alegassem a tradição. Então se tudo muda porque não substituir os corvos por algo mais agradável e circundante a Lisboa? Uma gaivota.

 

Se eu fosse uma gaivota, não me chamaria Fernão Capelo Gaivota mas, simplesmente gaivota de Lisboa.

 

Se eu fosse uma gaivota, faria voos rasantes, como um autêntico avião de caça, elevava-me, picava em direcção ao solo e, quando já estivesse pertinho, flectia as asas e depois de uma rasante aos telhados da cidade, voltava a elevar-me em direcção ao rio.

 

Se eu fosse uma gaivota, ah! Se eu fosse uma gaivota tornava-me contestatária de tudo o que não gostasse e, em certas zonas da cidade, com certas pessoas que visse na rua, voltava a fazer um voo rasante e desta vez com objectivos definidos.

 

Se eu fosse uma gaivota, elevava-me tanto, tanto no ar que me perderiam de vista e depois, picava a uma velocidade estonteante em direcção aos meus alvos, de tal forma era a velocidade que quando dessem por mim seria tarde de mais.

 

Se eu fosse uma gaivota, bombardeava-os com todo o excremento que lhes pudesse lançar.

 

Se eu fosse uma gaivota. 


11.11.13

 

Estás sempre a dizer-me e a advertir-me que devo poupar, não ser gastador, que do futuro ninguém sabe. Que devo ser inteligente nos gastos para não desbaratar as receitas com endividamentos excessivos, enfim, um sem número de bons conselhos.

 

E então, meu!

 

Tudo isso é só para me assustar? Tudo isso serve para me impressionar? Tudo isso só para eu pensar que sou pequenino ignorante e tenho de receber conselhos de quem mos quer dar?

 

Não, não pode ser. Tudo isso porque não tens um espelho em casa ou então porque, sempre que te queres ver ao espelho e perguntar, como a madrasta da branca de neve, lembras-te, alguém se interpõe e te tira a visão integral do espelho e então, nem o espelho sabe muito bem como responder-te, nem tu sabes muito bem o que o espelho te diz.

 

Espelho, espelho meu, quem é mais inteligente do que eu?

 

E o espelho embevecido pela pergunta de tão douta e senhorial personagem, verga-se, até ao chamado ponto de não retorno, e eternamente ficará vergado, ao peso da sua consciência por te ter faltado à verdade e ser incapaz de doravante a contar ou sequer deixar que alguém ou algum dos teus vassalos a saiba.

 

Espelhos.

 

E então, meu, como explicas aquela verbazinha, sim, porque nem era nada por aí além, uns milhares, perdoem-me mas às vezes até eu me sinto espelho, queria dizer milhões de euros para comprar uns automóveisitos e mais uns cartões de crédito que fazem sempre jeito, que o pessoal do governo tem de andar bem calçado, melhor vestido e, sobretudo, bem alimentado.  Já sei, despesas de representação. Mas afinal o que representam, se até os que em vós votaram já estão arrependidos?

 

Diz-me lá, ó cara linda, cara linda era o cavalo do Lucky Lucke, esse mesmo o cow-boy com um cigarrinho ao canto da boca e que as obrigações do futuro obrigaram a mastigar uma palhinha estragando com isso o passado de milhões de crianças da altura, hoje homens crescidinhos, que falta nos fazia, então não deste história no teu curso? Se não deste, e é possível que sim dadas as circunstâncias, não é? Devias pelo menos saber, porque vem em todas as biografias e outras notícias, que um teu antecessor, muito antecessor mesmo, que até o perdes na memória, pelos vistos, usou o mesmo automóvel, como representante do estado, durante três décadas!

 

Aquilo sim, meu, aquilo era poupança e com exemplos desses até eu poupava, já pensaste no que ele ajudou este país a nível financeiro e sobretudo a nível do défice externo? Essa grande batalha, sobre a qual pendem cordas em todos os nossos pescoços, qual Egas Moniz, que não consegues ganhar pois gastas mais depressa do que pedes poupança, meu, tem tento que assim não vais lá.

 

Aquele poupou, guardou, juntou, amealhou e não gastou.

 

E agora é um forrobodó, é gastar vilanagem que ainda restam alguns quilinhos de ouro. Compreendo e estou de acordo, era ouro fascista e tem de ser gasto quanto antes para que não reste qualquer rastro dessa porcaria fascizante.

 

Mas olha que até o petróleo se está a esgotar de tanto o sugarem, e achas que tu consegues ser mais vampiresco que o conde Drácula?

 

Tem tento meu, eu hem? Vai lá vai. Nem sangue para sugar nem défice controlado.

 

Pelo menos temos carrinhos novos no governo e quejandos, sim porque por essa verba, devem ser muuuuuiiiiiiiiittttttttttttooooooooooooosssssssss os ”bois”, emendo “Boys” a satisfazer.

 

Como é MEU? Assim não dá!!! Não há coiso que aguente. Perdão, substituam “coiso” por “orçamento”.

 

A bem da Nação.

 


06.11.13

 

“No céu cinzento sob astro mudo batendo as asas pela noite calada, Vêm em bandos com pés de veludo chupar o sangue fresco da manada.

Se alguém se engana com o seu ar sisudo e lhes franqueia as portas à chegada, eles comem tudo, eles comem tudo, eles comem tudo”.

 

Este refrão dá início a uma das mais conhecidas e emblemáticas canções de Zeca Afonso, esse monstro imortal, conhecido por todos os portugueses pela sua magia na manipulação da palavra de protesto contra o regime político vigente até Abril de 1974.

 

Sob a sua batuta foram aparecendo variadas canções de protesto e, por isso, também, pagou com o seu sofrimento o facto tão simples, tão banal hoje em dia, de ser diferente, de pensar diferente e de não concordar com a concórdia nacional.

 

Muitos dos que o condenaram ou que, da forma mais simples, lhe viraram as costas quando mais precisava, são hoje reputados democratas, defensores indefectíveis da liberdade de escolha, da liberdade de pensamento, da liberdade de discordar.

 

No entanto, paira no ar uma nuvem que tem vindo a aumentar e a escurecer de forma assustadora. Sente-se o esvoaçar constante do ajuntamento dos novos vampiros que esvoaçam, esvoaçam por tudo quanto é lado poisando aqui e ali e sugando o sangue velho e já chupado mas, também, o sangue novo e fresco que tanto lhes agrada.

 

E descortinamos entre estes vampiros, os novos vampiros muitos dos que outrora já haviam esvoaçado em torno da manada. Lenta mas inexoravelmente vão deixando cair a máscara da liberdade e mostrando os caninos afiados, sempre em crescendo na procura da nova manada para sugar, sugar até à exaustão.

 

“A toda a parte chegam os vampiros poisam nos prédios poisam nas calçadas

Trazem no ventre despojos antigos mas nada os prende às vidas acabadas”.

 

Como é que um homem como Zeca Afonso teve a lucidez de produzir a excelente obra que nos deixou e, sobretudo, a lucidez de ver onde outros só sentiam pequenas mordidelas, dentadinhas quase inocentes mas que iam desfazendo a manada por inanição.

 

Hoje mais do que nunca, a actualidade destes versos é impressionante, tanto pelos exemplos como pelos actos a que temos vindo a assistir praticados por aqueles que deveriam ter memória e ser o garante das liberdades por que ele tanto lutou.

 

Os vampiros de agora vêm com melhor aparência para mais facilmente enganar os incautos, vestem armani, perfumam-se, engravatam-se, fazem-se transportar em grandes máquinas, sorriem amplamente. Já não mostram os caninos afiados e prontos a sugar, mas antes uns dentes brancos e alvos de tanto tratamento branqueador.

 

Tudo isto sugado com o maior dos à-vontades, sugado à luz do dia, sugado dentro das leis esconsas que eles próprios aprovam, sugado de todo o nosso esforço sem esforço nenhum da parte deles, estes vampiros são muito piores que os anteriores.

 

Os segundos não enganavam ninguém, estava na sua natureza o sugar da manada e assim procediam, toda a gente os conhecia. Já os primeiros metamorfoseiam-se e misturam-se para parecerem parte da manada, mas no fundo, só o fazem para escolher a melhor forma de sugar sem a dispersar e até tentando que ela os ajude.

 

“São os mordomos do universo todo Senhores à força mandadores sem lei

Enchem as tulhas bebem vinho novo dançam a ronda no pinhal do rei, eles comem tudo, eles comem tudo, eles comem tudo”.

 

Os “vampiros” tão actuais como outrora só com uma pequena diferença, já não poisam nos prédios nem nas calçadas, evoluíram, agora poisam nas empresas públicas, nas privadas, nas boas colocações em lugares da UEM mas continuam a chegar a toda a parte. 


05.11.13

 

Abro o jornal e vejo o que não queria ver.

 

Abro o jornal e leio o que não queria ler.

 

Abro o jornal e espanto-me com o que não queria espantar-me.

 

Abro o jornal e desperto para uma realidade para que não queria despertar.

 

Abro o jornal e deparo-me com a mais insultuosa degradação.

 

Abro o jornal e vejo a mentira em que não queria acreditar.

 

Abro o jornal e descubro ao que a insensatez nos levou.

 

Abro o jornal e vejo a fome que não queria ver.

 

Abro o jornal e não acredito no que vejo.

 

Abro o jornal e pergunto-me como foi possível.

 

Abro o jornal e questiono-me sobre este sofrimento.

 

Abro o jornal e pergunto porquê as crianças?

 

Abro o jornal e pergunto porquê os adultos?

 

Abro o jornal e fico sem palavras.

 

Abro o jornal e choro o que não queria chorar.

 

Abro o jornal e uma lágrima cai na página.

 

Abro o jornal e fecho-o sem mais ler.

 

Este povo, esta gente, estas crianças e os seus familiares estão com fome e as escolas, agora, servem para colmatar esta grave falha da sociedade. 


04.11.13

 

As andanças pela cidade levam-nos à descoberta de coisas que por tanto serem vistas nunca são apreciadas.

 

Um dia destes dei por mim num passeio pela cidade até a um determinado objectivo.

 

Meia hora de metro até à baixa, meia hora de encontros e desencontros em que, por não ter levado a companhia do costume, um livro, me vejo a imaginar e auscultar as pessoas que entram e saem da carruagem onde me encontro.

 

Gordos, magros e assim-assim. Alegres alguns, outros tristes e um matiz de linguajar inconstante que de tão diferente nos impede a percepção do que quer que seja.

 

Sinto-me num caldeirão de costumes e culturas inimagináveis alguns anos atrás. Árabes, Indianos, Paquistaneses, Africanos de várias origens, até Europeias, europeus do norte, do centro, do leste e até do oeste  e Angolanos.

 

Inconfundíveis estes Angolanos, pela sua maneira de estar, pela linguagem que tem aquela acentuação especial que só ouvidos acostumados distinguem. Atrevo-me a imaginar que num futuro não muito distante esta maleabilidade e esta doçura adaptativa do português-angolano vai ser uma língua tão agradável e apetecível como o foi a descoberta da entoação da língua pelos brasileiros há uns anos.

 

Portugal está transformado no centro do mundo, no ponto de encontro de tudo o que são culturas das mais diversas.

 

Chegada ao destino. Baixa-chiado.

 

Ao sair da estação sou de imediato invadido pelo intenso brilho do sol, logo hoje que me esqueci dos óculos escuros, não faz mal, é só cerrar um pouco as pálpebras e a coisa vai.

 

O calorzinho que nos envolve é delicioso, tendo em vista que o passeio do cão na noite anterior foi bem frio, um dia extraordinário se nos lembrarmos que ainda há dois dias chovia a cântaros.

 

A pé até à CML onde estava a mostra de documentos da República, renovando energias com o banho de sol que nos acompanhava.

 

Gostei da mostra disponibilizada em termos documentais e fotográficos e apreciei algumas das razões par que a monarquia tenha sido ostracizada e derrubada por um golpe militar para que fosse aberto o espaço para a implementação da república.

 

Rezava assim o epitáfio da queda da monarquia:

 

“R.I.P. finou-se a monarquia

 

Viva a República

 

Agora esperamos pelos breves progressos da nova civilização

 

Viva a República

 

Lisboa, 12 de Outubro de 1910”

 

O que me espanta no meio de todas estas revoluções de que este país tem vindo a ser palco é que, seja qual for a época, seja qual for o regime, a desculpa foi sempre a mesma, a defesa intransigente do povo português.

 

Foi assim na implantação da República, foi assim no 25 de Abril de 1974.

 

O povo português, esse denominador comum, sempre esperou que a sua incondicional entrega a estas revoluções tivesse como resultado a sua melhoria de vida, maiores garantias de apoio social, melhores empregos, no fundo uma vida mais próxima ao que sempre foi a vida europeia, afinal era isso que movia as revoluções.

 

A prática, no entanto, é bem diferente. Então acabou-se com a monarquia, acabou-se com os grupos privilegiados em nome do sacrossanto povo e o que vemos hoje?

 

A criação de uma nova monarquia, agora pode dizer-se que esta é uma monarquia republicana pois basta olharmos à nossa volta para reparar que os políticos, na sua maioria, não são mais do que isso. Sempre os mesmo, legislando a seu favor em tudo o que são benesses, colando-se às cadeiras do poder e da assembleia com a agravante que em grande parte nunca trabalharam na vida para além do que fazem depois de eleitos.

 

São estes senhores, que dizem representar-nos, intocáveis, inimputáveis, inatingíveis e inamovíveis.

 

Reproduzem-se em quantidades insuportáveis para este país, para o erário público e para este povo que lhes paga tudo. Chegam mesmo a herdar as cadeiras dos papás, impressionante.

 

A nova monarquia.


04.11.13

"Um ligeiro restolhar no capim chamou-lhe a atenção, ali havia coisa. Aguçou os ouvidos, apurou a vista, não conseguia ver nada, estava abaixo do topo do capim, era bastante alto, mais alto que ele, só podia concentrar-se no ouvido, tentar decifrar aquele quase imperceptível ruído. Uma coisa sabia, tinha a certeza, não era ruído de animal, que os animais andam livres pela floresta e não se preocupam com estratégias de guerra, fazem o ruído que têm de fazer e o seu caminhar é mais barulhento, não, aquilo não era animal, aquilo era ruído de quem caminhava cuidadosamente pelo meio do capim.

Voltou a senti-lo, agora mais audível para quem estava totalmente concentrado nele. O silêncio da noite foi cortado pelo pio do mocho, deu o sinal aos companheiros que ali andavam homens caminhando na chana e entrando no seu perímetro de emboscada. O pio foi sendo repetido, o mesmo que Branquelas tinha ouvido e o pôs de sobreaviso, deste lado era o aviso mesmo, que passava de homem a homem para que todos se preparassem para o que ia acontecer a seguir. Não era o sinal de atacarem que esse viria depois de terem a certeza do que estavam a enfrentar e de ter o inimigo na zona perfeita para o efeito, aguardaram novo sinal do comandante, Noite Escura.

Passou-lhe pela cabeça toda a vida, como um filme, lembranças da infância, dos grandes e inseparáveis amigos, da família. As expectativas quanto ao futuro, quando tudo isto terminasse, pelo menos para ele que já ia com tempo mais que suficiente, estava cansado destas andanças, de andar de um para outro lado, da perseguição e ataque ao IN, enfim, estava cansado da guerra. Um dia, pensava para si, tudo isto acabaria, não tinha sentido, uma guerra interminável, pôr irmãos contra irmãos, não fazia sentido nenhum. Quando estivesse livre ia atrás de Meia de Leite, até à Europa, descansava disto e encontrava o seu velho amigo de brincadeiras, ia apanhar outros ares mas não ficava por lá que esta é que era a sua terra.

Parou o restolhar do capim, atentou no facto de ter acontecido depois do piar do mocho. Desconfiam de qualquer coisa, aperceberam-se que poderia haver por aqui tropa à sua procura, vão ser mais cuidadosos e vão levar mais algum tempo até avançar. Temos de manter a posição em silêncio até ao momento certo, temos de aguardar o seu primeiro passo, depois, avaliar a localização, o número de homens e a direcção que levam e então, só então, desferir o golpe necessário para os capturar.

Fez sinal para o homem que estava, ligeiramente afastado, mas atrás de si, guardando o guerrilheiro capturado, que o amordaçasse, mas era desnecessário, ele sabia o que tinha de fazer e já o tinha feito. Para além disso o prisioneiro estava tão amedrontado que quase tinha medo de respirar, deitado de costas com as mãos e os pés amarrados, não se movia. Voltou-se mais sossegado, tudo estava controlado, agora era só aguardar o primeiro passo, um passo em falso do IN e atiravam-se a eles sem dó nem piedade."


03.11.13

 

Em que a liberdade estava cerceada, diziam uns, que não senhor havia liberdade para todos, desde que se portassem bem, diziam outros.

 

A população, na sua esmagadora maioria, até se portava bem, ainda que o fizesse com receio das consequências que poderiam advir de algum mau comportamento.

 

O que é certo, e a história rezará, é que os que a achavam, o tal país, mau conseguiram, através de uma revolução repleta de flores vermelhas como o sangue, criar um país novo, transformá-lo naquilo que diziam seria um paraíso terrestre cheio de oportunidades para todos e em que a igualdade seria ponto assente.

 

Nunca mais se veria aquelas coisas horrendas, apregoavam eles, de alguém ser posto de lado porque havia outro alguém que até nem teria grandes qualificações mas era filho, afilhado ou outra coisa qualquer de quem podia mexer uns cordelinhos e afastar os indesejáveis para a melhor colocação dos seus rebentos.

 

Nunca mais, diziam eles.

 

Igualdade para todos, justiça para todos, educação para todos, saúde para todos.

 

Era um clamar de anti-injustiça que até fazia dó. Como é que vivemos tantos anos debaixo de tais tratamentos e nem tínhamos dado por aí além que eles existiam? Idiotas, não pensavam sozinhos e necessitavam de ser ajudados.

 

E foram ajudados na verdade. O país perdeu extensão em latitude e longitude, não tinha matérias-primas mas, qualquer cultura de tremoços resolveria a questão económica e assim, pequenos mas bons.

 

Pois na verdade a justiça de uns é sempre a injustiça de outros, cerca de um milhão mais coisa menos coisa ou se quisermos 10 % da sua população directamente, nada que atemorizasse os nossos salvadores sobretudo porque pugnavam por algo que estava acima de tudo o resto.

 

Igualdade para todos, justiça para todos, educação para todos, saúde para todos.

 

E assim foi durante cerca de três décadas e meia, tanto quanto a ajuda da Europa o permitiu. Sim porque esse país juntou-se a um bloco de outros países denominados EUROPA, tão velhos quanto ele e perdeu a oportunidade de ser um país do novo mundo, que tinham por missão ajudar-se mutuamente até que todos atingissem o mesmo patamar de boa vivência, como os nossos salvadores achavam que deveria ser, portanto com:

 

Igualdade para todos, justiça para todos, educação para todos, saúde para todos.

 

Na verdade nem todos souberam aproveitar estas benesses do nosso novo país, renascido das cinzas em que o anterior o transformou, mas houve quem soubesse trazer para o seu lado não só as vantagens e oportunidades oferecidas como ainda forçou outras inexistentes e foi deste modo que desapareceu num ápice toda a:

 

Igualdade para todos, justiça para todos, educação para todos, saúde para todos.

 

Claro que aqueles que foram bafejados pelas enormes oportunidades que se lhes depararam, quer por serem filhos, afilhados ou outra coisa qualquer , contra a qual se haviam insurgido os nossos salvadores, são agora veementemente contra qualquer coisa que possa significar:

 

Igualdade para todos, justiça para todos, educação para todos, saúde para todos.

 

E não é por acaso, é que agora estão do outro lado, do lado daqueles que já se sentem perfeitamente à vontade para esgrimir argumentos e bramir impropérios contra os que não estão do seu lado. E não adianta dizer que viveram sempre à sombra do novo país renascido das suas promessas de bem estar para todos, que quem o disser é do contra e avesso à mudança e sobretudo não quer trabalhar e prefere viver à custa do país renascido.

 

E com isto chegamos à triste conclusão que este tal país renascido e de bom viver vai ter de renascer, agora sem flores vermelhas de sangue. Agora com os olhos bem abertos na procura de:

 

Igualdade para todos, justiça para todos, educação para todos, saúde para todos.

 

E de preferência sem clientela partidária como a que conhecemos.


02.11.13

 

Como é possível?

 

Que o governo deste país nos peça sacrifícios imensos e o défice continue a subir.

 

Como é possível?

 

Que o governo deste país nos aumente os impostos para reduzir o défice e ele teima em aumentar.

 

Como é possível?

 

Que o governo deste país nos reduza os rendimentos para combater o défice e ele não desça de modo nenhum.

 

Como é possível?

 

Que o governo deste país se comprometa internacionalmente na redução do défice e ele não desça.

 

Como é possível?

 

Que o governo deste país nos peça poupança e seja tão gastador.

 

Como é possível?

 

Sinceramente não sei, mas ficava bem ao governo dar o exemplo de poupança pois eu contínuo a contribuir para a redução do défice e ele a aumentar.


01.11.13

 

É deplorável deplorar.

 

É deplorável o estado a que o estado chegou.

 

É deplorável a justiça que temos.

 

É deplorável a segurança social que temos.

 

É deplorável a capacidade dos nossos gestores.

 

É deplorável o excessivo lucro que os bancos têm num país cada vez mais pobre e necessitado.

 

É deplorável que o governo imponha uma taxa especial de solidariedade à EDP e ela de imediato anuncie o aumento das taxas que temos de pagar pela electricidade.

 

É deplorável que o governo imponha uma contribuição especial de solidariedade aos pensionistas e reformados e estes não possam impor mais qualidade e eficácia ao governo.

 

É deplorável que estejamos sempre a ouvir que é deplorável e que os actores que o proferem não actuem em consonância com essa deploralidade.

 

É deplorável ter estes políticos que se cobrem e se encobrem a pretexto de tudo e de todos para se manterem acrobaticamente nos poleiros que defendem com unha se dentes.

 

É deplorável que este povo se mantenha balindo docemente e suportando todos estes deploráveis aspectos.

 

É deplorável.


01.11.13

 

Estou cada vez mais preocupado com os efeitos desta crise económica que se abateu sobre todo o mundo, a Europa incluída e Portugal particularmente.

 

Não estou preocupado com as medidas agora tomadas já que seriam sempre no sentido em que estas também o foram, esmagar ainda mais os que nada contribuíram para ela e que são sempre os que a têm de pagar.

 

 Estou preocupado porque somos governados por gente que não tem palavra, gente que mente descaradamente, gente que se contradiz com a maior das facilidades, gente que diz agora e logo se desdiz, gente sem um pingo de vergonha ou sequer de princípios, gente que com a maior facilidade consegue encontrar argumentos para enganar este povo martirizado por anos de “democracia”.

 

A democracia pressupõe alternância, não só no poder mas também nas pessoas.

 

Que vemos nós após estas dezenas de anos passados depois da revolução dos cravos?

 

Vemos caras, sempre as mesmas caras, sempre a mesma gente que se assenhoreou do poder e não o quer largar de modo nenhum.

 

Caras que, de tanto aparecerem nos jornais e na TV, acabam por nos dar um sentimento de quase família quando nos entram pela casa dentro logo que abrem os noticiários televisivos.

 

Caras que envelhecem, caras que engordam, caras que resplandecem de brilho de tão inchadas.

 

Caras de quem ao longo destes anos mais não fez que enriquecer brutalmente, cavando o fosso que separa e estratifica esta Nação de forma tão grosseira e injusta, sempre à custa dos mesmos, Zé povinho.

 

Caras que, por incrível que pareça são as mesmas que governaram o país política e economicamente e o levaram a esta situação de crise que agora vivemos.

 

Caras que agora aparecem falando, doutamente, sobre a crise tentando argumentar que somos maltratados pelo mundo quando, na verdade, somos maltratados pelos nossos próprios conterrâneos.

 

Caras que estão preocupadas com a crise, não porque afecta o país e os portugueses mas porque as afecta a elas.

 

Caras que se encontram amiúde nos tribunais, em processos infindos que levam anos e anos a não levar a nada.

 

Caras que patrocinam os futebóis, com todo o chorrilho de animalidades com que somos presenteados.

 

Caras que até organizam espectáculos de fado, a alma portuguesa como desculpa, para nos entreter e distrair do que são os problemas do país.

 

Caras que se regozijam e enfileiram para estar mais perto do Papa na sua visita a este recanto da Europa, quem sabe pedindo perdão para os seus actos.

 

Caras que se regozijaram pelo fim do antigo regime fascista que entretinha o povo com a trilogia dos “F” e que agora repetem o mesmo caminho.

 

Caras que não têm cara.

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