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Caneta da Escrita

Temas diversos, Crónicas, Excerto dos meus Livros.

Temas diversos, Crónicas, Excerto dos meus Livros.


30.11.13

"Very lights lançados, área de operações iluminada e a ordem de avançar para o objectivo foi dada pelos pios de mocho. Em segundos movimentou-se uma máquina de guerra, preparada e bem oleada, pronta para o embate de gigantes que se ia desenrolar naquela chana, muita coisa ficaria resolvida depois da sua actuação e eles sabiam o que esperavam deles. Movimentavam-se seguros do terreno que pisavam, firmes e resolutos na procura de atingir o ponto central onde tudo se resolveria. Nada podia parar esta máquina a partir do momento em que é lançada ao ataque e ele tinha sido lançado."


30.11.13

 

Li há tempos uma notícia de jornal, lida e relida. Dou desconto? Não dou desconto? Será verdade? Quase inacreditável.

 

Pelo menos não deixa de ser credível por falta de testemunhas, já que uma delas é, em simultâneo, protagonista da notícia.

 

Assim rezava a dita notícia, em capa de jornal: “ Senhora idosa de noventa e seis anos encontrada sem vida na casa onde vivia, juntamente com o seu cão”.

 

À primeira vista, nada de mais, as pessoas morrem, muitas vezes sozinhas. O que me espanta é que não houve ninguém que sentisse a sua falta, que ninguém se importasse com ela, que não tivesse família, ainda que remota, que se preocupasse com a sua ausência.

 

Mas assim foi, morreu e ninguém deu por nada durante nove anos. Nove anos?

 

Incrível, nem conhecidos, nem amigos, nem família ou um vizinho. Só com o seu cão. Ambos mortos. Ambos descobertos passado nove anos, caídos no chão da cozinha de sua casa.

 

Triste não é? No fim, só o cão, o fiel amigo, a acompanhou até na morte.

 

É uma estória triste, é uma estória feia, é uma estória incrível. Também é uma estória irracional, com contornos dignos de uma acusação pública, provavelmente sem precedentes, mas, ainda assim, justíssima em termos daquilo que se deveria receber do Estado que não presta à comunidade o serviço, que se lhe paga principescamente, com a qualidade que se deveria receber e também exigir.

 

A senhora morreu, deixou de pagar as suas contas, provavelmente as contas da luz, da água, do gás, da televisão e outras, talvez até a prestação da casa.

 

O Estado confisca-lhe os bens por falta de pagamento, em tribunal, para se ressarcir a si e a terceiros.

 

Esse mesmo Estado que pretende obter, pela sua casa, o máximo proveito com o bem confiscado e portanto avalia-o, põe-no à venda, obtendo assim o almejado proveito que visa cobrir os tais prejuízos da falta de pagamentos da dita senhora.

 

Aparece alguém que adquire o imóvel leiloado. Como feliz proprietário, dirige-se à sua nova casa, abre a porta… depara-se com o macabro espectáculo. Uma senhora de noventa e seis anos de idade, jaz no chão, em igual estado, a seu lado, o seu fiel cão.

 

Mesmo um bom escritor teria dificuldade em engendrar tamanho enredo.

 

Ninguém deu por nada. A excepção à vizinha que estranhou a ausência e comunicou às autoridades. Estas ignoraram e nem abriram a porta por não ser permitido arrombá-la, mesmo quando os familiares o solicitam, mas ninguém pôs a vista em cima da senhora, nunca mais. Não cheirava a nada argumentava a autoridade e sendo assim não se investiga, não se procura deslindar o mistério. Que autoridade.

 

O avaliador do bem, avalia-o sem conhecer a totalidade do que está a avaliar pois nem entra em casa, que avaliação. Assim fica tudo na mesma, ninguém entra em casa.

 

O confisco faz-se sem ter em conta o confiscado. Ninguém falou com ela. Pois se estava morta seria difícil, mas era obrigação do tribunal.

 

Descoberta ao fim de nove anos, quando chega o novo proprietária.

 

Nove anos???

 

Este Estado precisa de ser refundado, precisa de ser reorganizado, precisa de autoridades que o sejam de facto. Precisa de um novo País. 


28.11.13

 

Estou atrasado.

 

E isto só acontece porque ainda dava crédito a promessas que afinal, em nenhum caso, foram cumpridas.

Mesmo assim acreditei que ainda poderiam vir a sê-lo.

 

Neste momento, já não acredito, estou até incrédulo como é possível que alguém se comprometa com algo que de imediato e logo que assume o comando do País, altera, manipula, torce e não cumpre.

 

Mentiram.

 

Mentiram a milhões de portugueses que também acreditaram que seria, de facto, como prometiam.

 

Apesar de tudo, coerente com os meus receios, não fui um deles, não lhes dei a minha bênção e nem o voto lhes confiei é que como diz o popular ditado “gato escaldado de água fria tem medo” e eu receei que fosse conversa mole, não me enganei.

Mesmo assim, dei o benefício da dúvida respeitando os que nele confiaram e acabei confirmando os receios que tinha quando, com alguma tristeza, deixei de por a cruzinha naqueles que representavam aquilo em que sempre acreditei.

 

Por tudo isto, me cumpre então expressar o meu profundo agradecimento.

 

Agradeço pois, a todos os que deram o seu voto a quem mentiu e traiu os princípios da ética política e do respeito para com os seus concidadãos, com um simples intuito, aceder ao poder.

 

Agradeço penhoradamente por terem permitido que, os meus fracos rendimentos bem como o de outros milhões de portugueses, tenham vindo a ser pura e simplesmente esbulhados, o que verifico quase mensalmente, em prol de uma crise de que não tenho responsabilidade pois não sou proprietário de nenhum banco.

 

Mais agradeço, pelo esforço que me tem sido exigido e a tantos milhares de outros portugueses, sem que, apesar dele, nada tenha mudado, nem a dívida nem o défice e muito menos o desemprego e a fome que grassam por este País fora e de que muito me envergonho.

Oxalá, os que neles depositaram o voto reconheçam o desperdício que foi e sintam em si a mesma vergonha que eu sinto.

 

Tudo em vão, dinheiro deitado fora depois de retirado pela força de uma legalidade cada vez mais duvidosa.

 

Agradeço pois, a todos os que votaram para que este governo fosse eleito. 


25.11.13

"O Branquelas, aquele sacana havia-se passado para o outro lado, o que lhe teria passado pela cabeça? Um branco misturado com aquela gente em ataques e devastações pelo mato fora. Não conseguia compreender, nasceram todos no mesmo bairro, cresceram juntos, tiveram a mesma educação e logo ele, branquinho como a cal da parede, havia de ter esta ideia maluca. O desgosto que deu aos pais nem ele calcula, éramos tão amigos, éramos não, que eu não deixei de o ser, contínuo tão amigo como quando éramos miúdos. A única coisa que peço é que nunca nos encontremos nestas andanças da guerra, sabe-se lá o que aconteceria, qual a reacção de cada um de nós? Não sei se seria capaz de lhe fazer mal e ele? Seria capaz de lhe fazer mal a ele, o Noite Escura da infância deles? Não acreditava mas nunca se sabe, o melhor mesmo era que nunca estivessem frente a frente.

A amizade tem destas coisas, especialmente a amizade de longa data e tão insistentemente cultivada, deixa os amigos preocupados entre si e aqueles dois, cada um de seu lado, mas ambos preocupados com o outro. Raio da guerra que só nos faz mal, vociferou para dentro da sua cabeça. Que seria da amizade entre as nossas famílias se um de nós eliminasse o outro? Não pode acontecer, de maneira nenhuma, isso nunca. Temos de evitar que isso aconteça e o melhor é mesmo não nos encontrarmos por estes matos.

O ruído, o restolhar do capim, recomeçou, agora com mais cuidado, pensou, sentiu-o aproximar-se da sua posição, iam dar de caras com ele. A adrenalina subiu-lhe à cabeça, os músculos retesaram-se, os dedos crisparam-se em volta da arma e no gatilho, pronto a disparar ao menor sinal de perigo. Uns segundos que levaram toda uma eternidade foi o tempo suficiente para perceber claramente que eram homens que estavam a passar mesmo debaixo do seu nariz, não se moveu um milímetro, suspendeu a respiração, os olhos fixaram-se nas movimentações à sua frente, não moveu um único músculo.

Foi ouvindo o restolhar cada vez mais afastado, lentamente foi relaxando os músculos, voltou a respirar, manteve-se atento à direcção que levavam, não os tinham detectado e encaminhavam-se direitinhos para o centro do cerco que haviam montado. Quando atingissem o ponto de não retorno, onde já não podiam recuar pois o cerco fechar-se-ia atrás deles seria, então, o momento de dar o sinal de ataque. Daí para a frente estava tudo nas mãos de Deus, lançar-se-iam ao ataque com a ferocidade que lhes era conhecida e tentariam capturá-los antes de os eliminarem, se se entregassem, se não opusessem nenhuma resistência, seriam simplesmente manietados e devolvidos ao aquartelamento para averiguações. Se o não fizessem, então, a coisa podia ficar feia, tiros de lado a lado e perigo eminente de ser fulminado, até por fogo amigo.

O som do restolhar deixou de ser ouvido, estavam a caminho do centro da área de ataque, a atenção redobrava, dentro em pouco estavam a ouvir o sinal de ataque e não demorou muito. Noite Escura escutou o primeiro pio do mocho, do outro lado da clareira, logo outro e mais outro, todos à volta da zona de operação, tinham atingido o centro e as alas dos emboscados davam o sinal de localização definida e dentro da zona de ataque. Restava-lhes avançar depois de serem lançados os very lights, a área seria suficientemente iluminada para que a captura dos guerrilheiros se processasse em segurança, passavam a ver tudo ou quase tudo."


24.11.13

 

 

Sempre pensei que o último reduto não seria destruído.

 

E o último reduto na, minha opinião, seria sempre a Assembleia da República onde pontuam os representantes, dizem, do povo português eleitos por voto não directo é certo, mas directo ao partido que o propõe.

 

Aqui aparecem as minhas dúvidas, o partido propõe para que seja eleito numa lista qualquer e afinal o que é que ele representa? Quem representa? De que é que ele é responsável?

 

Pois a resposta está exactamente no triste espectáculo a que assistimos na discussão do Orçamento do Estado para 2013. Nunca imaginei que um palco que deveria servir para tomar decisões a bem do país se transformasse numa luta de galos tentando, cada um à sua maneira, cacarejar mais alto que o outro.

 

Assim não, meus senhores. Agora de cada vez que os noticiários visarem imagens e sons dessa casa é necessário colocar bolinha vermelha no canto do ecrã e mandar as criancinhas para a cama mais cedo.

 

É intolerável que onde as atitudes deviam ter elevação se encontrem tão baixas.

 

É inadmissível que deputados da nação se percam em linguagem imprópria, em atitudes de agressão verbal com tal verborreia de palavras e tão baixos resultados práticos na governação da Nação.

 

Não desculpo ninguém, todos estão no mesmo saco.

 

A amostra é claramente de pouca qualidade como ficou demonstrado.

 

E que dizer dos que criam uma condição de guerra permanente até conseguirem os seus intentos, no caso baixar a aspereza do O.E., e logo a seguir vêm dizer que não têm nada com ele? Isto parece uma brincadeira de crianças só possível porque se mantêm em alternância no poder à custa deste martirizado povo.

 

Isto, meus senhores, não são políticos responsáveis.

 

Isto é a monumentalidade da baixeza a que uma casa de grandes tradições Republicanas chegou.

 

É trágico e grotesco o aspecto que se dá, interna e externamente.

 

A verdade é que a casa não tem culpa, mas sim quem a habita, e o que me assusta é que o povo português vai voltar a cometer o mesmo erro em que vem incorrendo desde o 25 de Abril de 1974.

 

Caros PARaLAMENTARES, elevação não é só nos ordenados e nas benesses que o cargo lhes oferece, é sobretudo na responsabilidade com que se exerce, na clareza dos processos que se utilizam, nas propostas que se fazem, no conhecimento do país.

 

Elevação é servir o povo português, estar ao serviço deste povo sem dar estes tristes espectáculos.

 

Estou mesmo agoniado com esta gente.


22.11.13

 

O Icon para aqui, o Icon para ali, pressiona o Icon, procura o Icon, desapareceu o Icon.

Um dia destes, estava eu em serviço, claro, de apoio a minha filha recentemente sujeita a uma intervenção cirúrgica e ainda não recuperada para se deslocar com o à-vontade do costume, no entretanto do deixa-a aqui, vem buscar mais tarde, resolvi esperar um par de horas para a recolha que se faria necessária.

 

Recolhi-me a um jardim público, grande, espaçoso e frondoso já que as árvores ainda abundam por ali. Dirigi-me a um quiosque, um dos que celebrizaram a tomada da ginjinha pública mas, desta feita, erigido no interior do dito jardim. Procurei lugar numa das mesas, à sombra, que o sol queimava já, aí com 31 º às onze horas da manhã, e lá me consegui alapar numa mesinha de canto onde o sol cobria metade e a outra metade ia sucumbido ao fugir da sombra, mas enfim a esperança de que a minha vontade contrariasse o movimento perpétuo do sol, não consegui.

 

O jardim regurgitava do chilrear de passarada, grasnar de patos e, aqui e ali, o pio prolongado de um pavão, lindos de leque aberto. As crianças, muitas felizmente, agrupavam-se por escola ou por classe e lá se entretinham debaixo das frondosas sombras a fazer aprendizagem ao ar livre que o dia estava propício.

 

Na mesa ao lado, duas mesas juntas para ser mais preciso, seis ou sete pessoas discorriam sobre os assuntos mais diversos, seis mulheres e um homem, até aqui já estão em maioria.

 

Uma, que mostrava a mais recente sequência de imagens do feto que trazia no ventre, que sim, que era uma menina como sempre dizia mas, aqui com uma pontinha de desgosto a aparecer-lhe ao canto dos olhos, tinha pilinha.

 

Todos viram as imagens, todos deram a sua opinião, todos comentaram e, na verdade, do local onde me encontrava pude constatar, ninguém viu nada e ninguém percebeu patavina do que ali estava, faltava-lhes um médico habituado à coisa para lhes mostrar os verdadeiros contornos do milagre da vida que ainda antes de o ser já se encontra retratado pelas modernices do avanço da tecnologia.

A futura progenitora, lá foi dobrando o primeiro filme da vida desta criança sem que, ao mesmo tempo, recomendasse à colega que não o dobrasse de qualquer maneira pois aquilo tinha uma sequência de imagens e se a perdia então é que não perceberia nada do que lá estava.

 

Na impossível quantificação dos parabéns, que seja uma hora feliz, já tens nome e etc, a futura mamã sempre foi dizendo que talvez ficasse de baixa mais cedo do que efectivamente necessitava, pois o mais importante é garantir a saúde da criança e o bem estar dos pais que ter de ir trabalhar. Ai se o FMI e a Merkel ouvem isto, havia de ser o bom e o bonito.

 

Lusitanidades, Ibérices, coisas do sul da Europa.

Outra que discutia as causa da separação da amiga que ainda ontem assim, e hoje é o que se vê.

 

Mas, apanhando o fio da tecnologia, uma vez que estas conversas eram cruzadas e até incomodavam o meu livro que não conseguia concentrar-se em mim que o tentava abespinhadamente ler, uma das senhoras, que trabalhavam por perto e, na hora de almoço, iam ao jardim tomar o cafezinho da praxe, levanta um problema crucial para quem trabalha com estas coisas de computadores.

 

O Icon desapareceu, à primeira ouvidela, liguei logo a coisa a uma daquelas pinturas Ortodoxas Russas que alguém teria surripiado ao seu lugar de exposição. Não, não era nada disso, ouvi mal. O que se passava é que o Icon e não o Ícone, tinha desaparecido do ecrã do computador. Parece uma coisa banal mas não é, falam tanto da tecnologia que todos devem saber utilizá-la e trabalhar com ela, que torna a vida mais fácil, que sem ela já nada seria a mesma coisa e de repente o Icon desaparece, assim, sem mais nem menos. E agora pergunta outra o que vais fazer? Sei lá responde a primeira, tenho que chamar um técnico senão não consigo fazer nada. Mas para que servia esse Icon desaparecido, pergunta ainda outra? Era o Icon do som!!!!

 

Fiquei sem som no computador. Mas não poderás resolver isso de outra forma sem o Icon?? Não sei, o que sei é que quando queria aumentar ou diminuir o som era no Icon agora sem ele sei lá como aquilo funciona?

 

Quase, quase, arrisquei dizer que existiam definições do sistema operativo que lhe devolveriam o Icon ao ecrã e que até podiam ser manipulados directamente sem o dito, mas calei-me a tempo. Ainda me chamavam ignorante.

 

Assim vai a literacia informática tão cara aos nossos governos.

O icon já se vê, sem ele nada feito.

 

Dei mais dois goles na loirinha, uma trinca na tosta mista e ignorei a tecnologia, afinal eu tinha nas mãos um livro à moda antiga, de papel, encadernado e colado, daqueles que, como costumo fazer, se abrem a meio e se sente o cheiro a livro quando encostamos o nariz.

 

Não preciso do Icon.


21.11.13

 

De facto isto não é um país, é um sítio, um sítio não do pica-pau amarelo mas dos pica miolos.

 

É vê-los empolgados em discussões sem fim, sem nexo, sem objectivo e sobretudo sem a dita e propalada produtividade. Eles falam, falam, falam e não dizem nada ou, antes, até dizem muito. Dizem “façam o que eu digo não façam o que eu faço” e é por estas e por outras que ninguém acredita nestas criaturas palradoras.

 

Pelos noticiários vamos sendo postos ao corrente do que se passa neste país e uma das coisas, o tema dominante tem sido o aumento salário mínimo.

 

Até me sinto envergonhado com o que vejo e ouço. Como é possível que percam dias e dias, com a quantidade de gente que se senta à roda de uma mesa de negociações, gordos, anafados e bem pagos, para discutir o aumento do salário mínimo nacional de quatrocentos e setenta e cinco euros para os quinhentos euros.

 

Vinte e cinco euros separam esta gente e justificam ou não a credibilidade do governo. Estamos a falar de menos de um euro por dia de aumento, mesmo assim os patrões deste país diziam que as suas empresas não tinham capacidade de pagar esta verba. Que vergonha senhores, como podem mostrar a cara na rua sem se sentirem mal?

 

Não me apetece discorrer muito sobre este tema numa altura em que o ser humano se sente mais solidário e apoiante de quem precisa, mas gostaria de deixar à consideração de quem se der ao trabalho de ler algo que me angústia de sobremaneira.

 

Seria interessante que publicamente se soubesse quanto, durante este ano, os nossos patrões gastaram em festas, em jantares, em automóveis e todo o tipo de desperdícios. Assim se perceberia porque é que as suas empresas não têm capacidade de suportar um aumento de ordenado de menos de um euro para os seus empregados que já são miseravelmente explorados.

 

Falam, falam, falam mas o resultado é muito pequenino.


20.11.13

 

Olhar para a coisa. O olhar para qualquer coisa tem sempre a importância que se lhe quiser atribuir. Olhar para esta coisa tem a importância que lhe dou e é grande.

 

Não passa de um olhar com opinião, mas esta, como todas as que emito, são meras opiniões pessoais e não implicam o não aceitar de outras. É minha, outros terão outras, mas esta saiu do meu coco, daquilo que eu vejo e sinto como importante e assustador para mim e para os que me rodeiam.

 

Há, como tudo na vida de cada um, coisas de que gosto e não gosto, coisas que gostaria de ver mudadas e outras não. Sou, no entanto, adepto da mudança em tudo aquilo que trás de melhoria para as pessoas mas, detesto aquelas que, por nada ser demonstrado, não se prevê que venham a ser benéficas para quem quer seja.

 

Estamos então com o olhar sobre a coisa. A coisa, como lhe chamo não tem nada de racional, não tem nada de nacional, não tem nada de elevado em termos daquilo que sentimos ser necessário para o país.

 

A coisa está a perder credibilidade por força dos actores que a utilizam como palco para as suas representações, acrobáticas algumas, desastrosas outras, mas sempre, desde que me lembro, em prol daquilo que não gosto, em defesa de prioridades partidárias e pessoais em detrimento do que deveria ser a defesa do Estado, da Nação e no sentido de unir os portugueses para enfrentar as dificuldades actuais.

 

E de coisas que não gosto é de acertar em pequenas opiniões que em boa verdade gostaria de errar. Mas não errei, não errei ao achar que o primeiro de todos os primeiros, apesar do ar sério e pretensamente responsável não serviria para representar todos os portugueses e que, além do mais, era suficientemente rancoroso para aproveitar a primeira ocasião que lhe surgisse para aquela pequenina vingança que tanta satisfação dá a algumas pessoas, e que as define, mas que em nada dignificam a coisa e os actores da mesma.

 

Poderia ter intermediado, podia ter pressionado um entendimento, mas não, refugiou-se na falta de tempo para intervir. Tenho pena e sinto-me envergonhado que uma pequena vingançazita possa pôr em causa a estabilidade do País, nomeadamente quando quem representa ou quer representar todos os nacionais não conseguisse separar as coisas. Fraco actor nesta tragédia, sobretudo porque jurou uma coisa que é sagrada para a coesão do País, a sua constituição, e afinal a coisa anda mais ou menos tremida em termos de cumprimento.

 

Por outro lado, os restantes actores, ditos oposição, de todos os quadrantes não mostraram melhor performance e puseram de lado tudo o que era essencial para ajudar à desgraça. Bem defendem a imagem do país enchendo a boca de palavrões inflamados, na prática, quando surge a oportunidade de distribuir benesses pelas clientelas, logo esquecem tudo isso e se engalfinham na luta por destronar as posições actuais na ânsia de lhes suceder.

 

O que é grave e indiciador do que acabo de opinar é que não existe da parte destes qualquer projecto de melhoria anunciado, de forma a resolver as dificuldades, mas sim intenções e palavreado. Caso para repetir o “falam, falam, falam, mas não dizem nada”.

 

O que me parece, a esta distância, espero estar enganado, é que a situação vai piorar e para que haja alguma melhoria vão ser os portugueses a pagar na mesma e muito mais.

 

Sinceramente, gostaria de estar enganado.


18.11.13

 

Como é possível que de um simples pau, um pedaço de madeira se retirem sonhos de criança.

 

Parece impossível mas é verdade, muito verdade mesmo e eu posso testemunhá-lo.

 

Vivi intensamente o período da meninice, sem problemas, sem vergonhas, descalço e muitas vezes rotinho também, apanhando uma surrita de vez em quando, senão nem tinha graça, e até bebia água da mangueira do quintal.

 

Mas os sonhos, os sonhos, esses eram impregnados das coisas mais maravilhosas que o nosso mundo, pequenino, nos podia oferecer.

 

Oferecia-nos a possibilidade de, mesmo sem nada ter de especial, construirmos todos os castelos que quiséssemos.

 

E nós construíamos.

 

Um dia, autênticos ases do volante, correndo pelas pistas fora como verdadeiros campeões ou conduzindo camiões em perigosas estradas cerradas pelo mato que teimava em cobri-las a cada curva da estrada.

 

Outro dia, podíamos ser uns audazes pilotos de avião criando anéis de fumo nos céus da nossa infância.

 

Outros ainda, embarcados nos nossos veleiros, corríamos os mares da imaginação tão leves e velozes como os pássaros, utilizando, já se vê, as poças de água da chuva.

 

Pois é, e tudo isso feito a partir de um pedaço de madeira, de um pau, feito com as nossas próprias mãos a partir da nossa imaginação, inacreditável.

 

Quando nos decidíamos por perigosas caçadas pela selva dentro, era ver-nos, armados até aos dentes sem falhar os mais pequenos detalhes.

 

Fisgas na mão e os bolsos cheios de pedrinhas de “burgau”, o armamento predilecto e também o possível.

 

Nestas alturas o pedaço de madeira, o tal pau, também vinha em nosso auxílio criando, pela prodigiosa imaginação que nos animava, gaiolas de encantar para aprisionar as nossas presas.

 

Eram gaiolas de um andar, de dois andares com varandas, com terraços, enfim, até onde a imaginação nos permitisse chegar.

 

Chegando a tardinha, depois de fartos almoços de gajajas e maçãs da índia com umas manguitas pelo meio, que isto da caça grossa dava cá uma larica, lá regressávamos a casa.

 

No caminho de regresso começavam as preocupações e a arquitectarem-se desculpas para o desaparecimento durante todo o dia, também, o ralhete morria no próprio dia e logo a seguir vinha outro dia de aventura.

 

Mas o pior era a inspecção, pois então, como na tropa, a inspecção era obrigatória e porquê? Por causa das matacanhas ou bitacaias, como lhes queiram chamar. Sempre achei que matacanhas era um nome perfeito para aquilo que nos faziam passar para as retirar de entre as unhas dos pés.

 

Já sei, descobriram do que estou a falar.

 

Pois então o BORDÃO.

 

Pedaço de maravilha da natureza só encontrado em terras de África. Criado pela natureza exclusivamente para alegrar a meninada, excelente pedaço de madeira, o pauzinho dos sonhos.

 

Com ele podíamos ser o que quiséssemos, com ele podíamos correr mundo.

 

Grande pau, grandes sonhos, belíssimas brincadeiras.

 

Uma infância feliz.


16.11.13

 

Olhou a montra de soslaio, deu dois passos e voltou atrás. Olhou e remirou, a fruta estava linda e apetitosa, hesitou uns segundos e acabou por entrar na frutaria.

 

Sentiu logo o cheiro inconfundível da diversidade de fruta que ali se encontrava exposta. Passeou o olhar pelas uvas, as maçãs brilhavam, diversos tipos de pêra, mas a rocha era a que lhe agradava mais, a variedade era infindável.

 

Parou frente a uma banca cujo conteúdo frutífero era na sua totalidade exótico. Frutos da China, frutos da Nova Zelândia, frutos da América Latina, frutos de Israel, frutos da África do sul, enfim frutos de todo o mundo amontoavam-se naquela banca sem que por isso se molestassem. A sua função era satisfazer a clientela que os procurava para, quem sabe, provar as iguarias, matar saudades ou qualquer outro motivo também aceitável.

 

Deteve o seu olhar em alguns destes frutos que, de uma forma ou de outra, sobressaíam no meio daquela amálgama de sabores.

 

As bananas estavam belíssimas, mas os mamões senhor, os mamões estavam mesmo a pedir que os comessem, e como eu gosto de mamão. Sabor único.

 

Levou a mão a um deles, levemente, sentiu a sua textura, apalpou-o, estava no ponto, não muito mole, mas suficientemente maduro para distender de imediato o palato ansioso de o abocanhar. Colocou-o no cesto sem que, antes disso, lhe sentisse o cheiro gostoso a outras paragens. De imediato se lembrou de quando criança, juntamente com o resto da malta da rua, fazia batidas aos mamoeiros munidos de paus com o comprimento suficiente para abanar a fruta cá de baixo enquanto um deles ficava à coca da esperada queda, para o apanhar antes de se esborrachar no chão.

 

Não estava ainda contente. Olhou para as mangas. Revirou os olhos com o seu aspecto, pequeninas, de um amarelo acastanhado, cheias de pintinhas na casca. Instintivamente salivou com a antecipação do seu sabor. Pegou numa, mexeu-lhe, eu sei que não se deve fazer, mas como apreciá-las no seu conjunto se não as tivermos na mão?

 

Sentiu-lhe o peso e o cheiro, olhou-a tão pequenina lembrando-se do porte da árvore de onde provinham, nessas árvores se passaram tardes infindas. Baloiçando nos seus ramos, trepando-as em busca do fruto, recostando-se nas suas frondosas ramagens e deglutindo o sabor dos seus filhos. O cheiro? Só uma manga cheira assim, uma manga de África.

 

Surpresa. Olhou para a etiqueta, produto de Israel. Pegou noutra e remirou também a etiqueta, produto de Espanha. E as de África onde estavam? Não havia, mas estas tinham o mesmo sabor e a mesma qualidade.

 

Esqueceu a sua proveniência e pegou em quatro delas, misturadas para as saborear a todas, meteu-as no cesto. Dirigiu-se à caixa e pagou a fruta.

 

Não trouxe maças, nem uvas, nem peras ou laranjas. Levou consigo os frutos da sua infância, os frutos da sua saudade.

 

Saudade é uma palavra bem portuguesa, mas os frutos e o sabor, ah!  isso é Africano concerteza. 

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