22.12.13
Pendurou-se no escadote, esticou-se, estendeu as mão até onde podia e tacteou à sua procura, não foi fácil encontrá-lo à primeira.
Subiu mais um degrau e deparou-se com a confusão mais ou menos organizada daquele armário poucas vezes visitado e onde, de tudo um pouco, lá cabia.
Levantou duas ou três caixas e, finalmente, deu com ele, ainda na sua caixa original, já um pouco gasta e maltratada pelos anos mas ainda completo.
Era um pinheirinho pequeno, não teria mais de oitenta centímetros de altura, tinha, no entanto, uma característica que o diferenciava da grande maioria dos pinheiros de Natal, este já tinha criado duas crianças.
Foi um pinheirinho comprado com muito carinho e amor para ser decorado e iluminado nos dias de Natal que aí viriam, sempre na perspectiva de que à sua volta se iria enchendo de presentinhos para aquelas duas crianças.
E assim, o pinheirinho, passou a ser, anualmente, uma companhia indispensável.
Pequenino mas de porte erecto com os seus raminhos estendidos e prontos a receber todos os enfeites de que o gostavam de carregar.
E era vê-lo depois de pronto, tão engraçado na sua pequenez, fazendo inveja aos de grande porte que o olhavam até com alguma sobranceria, ele não se importava.
O importante para o pinheirinho era o facto de, apesar de pequenino, ter cumprido sempre, com distinção, a missão para que foi adquirido.
As suas luzinhas brilhavam pela noite dentro e, quando o tempo de iluminação e o peso dos enfeites era grande, piscavam, uma aqui outra acolá e lá iam alegrando uma noite que esperava sempre festiva.
Em algumas alturas, quando os seus companheiros de alegria ainda eram pequenos, os presentes chegavam a tapá-lo por completo, as embalagens amontoavam-se à sua volta subindo em cascata até que atingiam alturas maiores que a do próprio pinheirinho.
Nunca se importou, sabia que se isso acontecia era porque a felicidade daquelas crianças estava assegurada quando se aproximassem dele e deparassem com tanto presente, e piscava, piscava ainda mais, abanando os seus frágeis raminhos repletos de guloseimas.
Pegou nele com carinho, retirou-o da caixa onde se aninhava durante todo um ano, saindo uns dias para nos alegrar e logo depois voltando ao seu isolamento.
Olhou-o, esticou-lhe um raminho, depois outro, e mais outro, esticou-os todos, calçou-o com as suas sapatas de equilíbrio e uma pontinha de comoção o invadiu deixando-o por momentos ausente do mundo.
Aquele era o pinheirinho que acompanhou todos os natais dos seus filhos, aquele era o pinheirinho que foi o seu companheiro de alegria e felicidade durante tantos anos, aquele era o pinheirinho que os acompanhou até à maioridade e mesmo depois disso.
Como pude ser tão egoísta ao ponto de pensar em substituí-lo por outro, renegando-lhe o direito a esta velhice já mais calma e sossegada, porventura com menos embalagens à sua volta mas com os seus meninos a, pelo menos, visitá-lo nestes dias festivos.
Abraçou-o, enfeitou-o, iluminou-o, e preparou-o para a sua soberba função de dar alegria sem nada pedir em troca.
Por fim, informou-o que já não eram só os seus meninos que tinha de alegrar.
Um dos seus meninos já tinha, também uma menina, Carolina de seu nome, sua nova amiga, e um dos presentes lhe pertenceria e a recentemente chegada Margarida, que ainda nada apreciaria, mas não deixava de ter também uma pequena lembrança.
Olhou-o por entre os seus raminhos, quase notou uma certa flexão no raminho mais alto, de satisfação, pensou, as luzinhas acenderam-se e, estava quase certo, brilharam mais ainda desta vez.
Nunca mais terá outro pinheirinho, pois este, velhinho mas conhecedor deste mundo de festa natalícia, vai continuar a sua função, agora também, alegrando a Carolina e a Margarida.